Carta ao meu Amor

Nalgum, em todo e qualquer lugar e tempo,

Amor da minha vida, hoje quando acordei ainda ouvia a tua doce voz me pedindo para te escrever uma carta. Foi aí que, ainda de olhos fechados, me dei conta de que amar é tão necessário, quanto gostoso e exigente. Lembrei-me de algo que eu já sabia, mas vivo tentando esquecer. Inevitavelmente, mas cedo ou mais tarde, a gente sofre proporcionalmente ao tanto que amou ou que ama. Isso acontece geralmente mais cedo e normalmente sempre, pois, amar é necessariamente sofrer. Amar você é um acontecimento único na minha vida, mas sem esse amor eu não saberia o que é viver e desconheceria o que é amar plenamente, sobretudo as suas exigências. Foi-me difícil entender e aceitar que, O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso não é arrogante nem orgulhoso” (1Cor 13, 4). Como não? Sempre me perguntei. Esse cara nunca amor! Sempre me disse. Foi com você que aprendi a incrível arte de viver e de amar. Como saber ou decidir sozinho o que é bom para mim, se eu já não existo sem você? Se sem você, tanto faz? Como, mesmo te amando e sabendo o quanto tu me amas, viver bem, se estou longe de você? Mas, como fazer, o que fazer, para estar sempre perto de você? Como impedir que algo inesperado ou indesejado te aconteça, mesmo você estando perto? Como ter sempre e dignamente o teu amor e como te amar sem te prender? Sem te perder e sem te oprimir? Você foi a minha primeira e maior transgressão, a minha maior, melhor e mais eloquente aventura. Aventura como sonho, utopia, desejo de ser, certeza de está sendo. Depois de você, simplesmente não haverá depois.   

Ah, meu amor, minha vida, meu tudo, meu quase nada a faltar, se todas as pessoas amassem, mesmo que por um tempo curto, como eu te amo! Ah, se todas as pessoas fossem amadas, mesmo que por pouco tempo, como nós somos! Você não precisa dizer que me ama, eu sinto. Mas você diz mesmo assim. Eu não precisaria te dizer que te amo, porque você sente. Mas, mesmo assim, eu te digo. E te digo porque gosto de te dizer. O mundo não seria limitado pelas leis, nem pelos sacramentos, nem pelos dogmas, se todas as pessoas soubessem o que é amar e ser amada, mas guiado pelo amor! Quando a gente ama assim e ainda mais, quando agente se sente amada assim, até pode ser que as leis nos atrapalhem, os sacramentos nos proíbam, mas jamais nos impedirão de amar. O amor é tão grande que nos faz parecer pequenos, ao mesmo tempo em que nos engrandece. É por isso que ele não cabe nas leis, nem nos sacramentos, nem nas igrejas, nem nas religiões, tampouco nas filosofias. É por isso que ele não cabe em nós, quando entra nos faz gigantes, apesar de frágeis. Amar é tornar-se frágil, mas saber-se capaz. Assim você me fez. Você me encorajou a fazer as coisas que eu jamais faria, a correr todos os riscos possíveis, mas ao mesmo tempo, incapaz de viver só. Sem você, mesmo que no paraíso, viver é um fardo. Com você, mesmo que distante, ouvir a tua voz todos os dias, dá sentido a minha vida. Ouvir-te é gozo certo, é prazer, é tremer as pernas da alma, é sorrir com o espírito dos pássaros e querer-te mais e mais. E sempre!

Amar é ser idiotamente feliz! É necessário cair do cavalo para poder entender, para ser capaz de compreender, o capítulo treze da primeira Carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios. Só você, só o teu amor me ensinou o que significa dizer que o amor, “Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará” (v 7-8a). O meu amor por você jamais passará. Não existe ninguém capaz de tirar de mim esse amor que sinto por você e que mora em mim. Nem mesmo você! Não importa com quem andas, aonde vais, onde estás, o que fazes, o meu amor por você é maior do que tudo isso. Inclusive do que eu. Se você estiver bem, eu estarei ótimo! Foi você quem me fez ser adulto, mesmo que continues me tratando como criança. Você me ensinou o que significa dizer, Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança” (v 11). Aí eu descobri que adulto também chora e que pode chorar. Adulto também pode perguntar, por quê? Aí eu vivo perguntando, por que você some? Por que você não está sempre aqui? Por que você tem que ir? Eu tenho esperança que você vai voltar, eu tenho fé que você nunca mais vai me deixar, eu acredito que o nosso amor é eterno, porque, “Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor” (v 13). E o nosso amor, de todos, é o maior. Como o Sol é o maior astro do céu durante o dia e como a Lua é a maior estrela do céu durante a noite, assim é o nosso amor o maior amor que existe entre o Sol e a Lua. Entre o céu e a terra. Entre eu e você.

            Nunca houve um amor como o nosso amor em milhões de anos de existência. Eu quero ser o Sol que arde em chama e calor durante os dias só para fazer-se refletir em ti a luz do amor que nos une. Eu nunca vou deixar de ver na face da Lua o teu sorriso me olhando e me pedindo para não sair, para não me afastar de ti. Para não te deixar. Cada nevoeiro que eu ver no céu me lembrará dos tantos empecilhos, das dificuldades e impossibilidades que nos fizeram viver assim. Distantes embora unidos pelo maior amor que já existiu. Amor da minha vida, os Deuses e as Deusas haverão de nos dar uma chance. Se não nesta, ao menos em outra vida. Até que este dia chegue continuarei te amando. Até que a gente se encontre para nunca mais se separar, você será o meu amor e eu serei o teu amor. Ninguém terá o que é teu, ninguém ouvirá o que é para você ouvir e ninguém fará o que só você sabe fazer. Talvez eu tenha que exercer a paciência de Jacó para ter a sua Raquel, e mesmo que tenha que te esperar por sete vidas, mesmo assim, eu te esperarei, (Gênesis 29 15-20). A lei, os sacramentos e os pastores, continuam dizendo que Lia chegou antes e tem além de direitos, preferência. Eu, a exemplo de Jacó, que amava Raquel, eu te amo, mas também me submeto às leis, aos sacramentos e aos costumes. Eu Te Amo, meu amor! Até, amor da minha vida.

Hoje é Sexta Feira, primeiro dia de Julho de 2016

João Santiago.
Teólogo, Poeta e Militante.

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