Crônica das Lições que a bola nos ensina – Aprendendo com os atletas do tio Bain

Crônica das Lições que a bola nos ensina – Aprendendo com os atletas do tio Bain[1]

            Aprender, para o ser humano, sabemos e reconhecemos, Paulo Freire já nos disse que é uma condição para se viver. “Somos condicionados a aprender”, disse ele. Precisamos aprender todos os dias, e em todos os lugares que passamos, sempre aprendemos algo. Os processos educativos estão por todos os cantos. Formais ou informais, eles sempre têm algo em comum e algo que é só seu. E o que é que eles nos ensinam? Bem, aí depende do contexto, mas sobretudo, depende de nós. Nós temos sempre grande participação naquilo que nos tornamos e nas lições da bola não é diferente.

Desde aquele dia 03 de maio de 2011, existe esta escola de futebol, de relações humanas, de afetividade, de cidadania e de construção de vínculos e pertencimento. Sim, porque, desde então, nunca mais as terças feiras foram as mesmas para os Atletas do Tio Bain. Quem faz parte dela, mesmo que por uma vez, mesmo que como convidado, não a esquece jamais! Quem a conhece, não quer mais deixa-la. A acolhida carinhosa, o aconchego do grupo, a vitrine que é para outras possibilidades, a recompensa grandiosa? O que é mesmo que atrai, cativa, envolve e seduz nos Atletas do Tio Bain? São muitas as razões, além das já citadas. Primeiro, o tratamento é o mesmo para todos; segundo, somente a bola é absoluta e insubstituível; terceiro, todos ensinam e aprendem e têm os mesmos direitos e responsabilidades. A todos e a cada um é dada a mesma importância. Mesmo que seja admitida a existência de uns mais habilidosos, mais jovens ou jovens há mais tempo, isso não faz ninguém melhor do que ninguém.

E quando a bola rola, aí não tem para ninguém, um vai e o outro vem, e sobe a adrenalina. Não dá bicão e domina, lança a bola na direita, chuta que o goleiro aceita, marca saída, sem falta! Cuidado com a bola alta, sai tocando pé em pé. Vencer é questão de fé, de acreditar no parceiro, do centroavante ao goleiro, aqui nós somos iguais. Jogam os filhos com os pais, até os avôs com os netos, são diferentes projetos, que na cancha se tornam um. Prevalece o Bem-Comum, o gol mais bonito é fair-play. O WAR aqui não tem lei, gritou falta, a bola para. Aqui, a joia mais cara, é a integridade do atleta, e a vitória só é completa, se tem abraço no fim. Os atletas do Tio Bain, estão bem acostumados, são sempre bem avisados, hoje tem jogo, galera! Um tem pressa o outro espera, um pega e outro dá carona. E a noite, já na poltrona, a alegria é completa, meus parabéns meus atletas, porque hoje foi jogaço! O que acharam daquele golaço, desta canhota certeira? Descansem, até terça feira, com muito mais futebol.

Os atletas do Tio Bain, são uma escola de vida, hoje, com oito anos e três meses de existência, tornou-se um lugar reconhecido como o ponto de encontro de diferentes estratos sociais: todas as gerações da família Santiago têm representantes, dos oito aos setenta anos; é um grupo humano de convivência, conhecido e reconhecido dentro e fora do grupo; reconhecidamente, ajuda as pessoas a se tornarem melhores pessoas, na vida e na convivência com as outras pessoas; proporciona momentos celebrativos, em diversos momentos e  por diferentes razões, aniversário de alguém, festas cristãs tradicionais, partida e ou chegada de algum de seus membros; ou simplesmente para celebrar a vida e agradecer.

Constitui-se em um dos lugares mais representativos de nossa convivência e de nosso conhecimento. Nos momentos celebrativos reúnem-se centenas de pessoas de todas as idades e funções. Agora, inclusive, já tem um espaço para o futebol feminino, que nos momentos celebrativos já tem sua presença garantida. Revelou e reconheceu uma liderança carismática que agrega e organiza tudo, mas faz questão que seja mérito de todos e de todas. Cabe a cada membro dos atletas do Tio Bain, regar esta plantinha para que ela aprofunde suas raízes no solo do tempo, beba a água da eterna juventude e se mantenha dando flores e frutos. Vale lembrar que entendendo a Religião como algo que liga de novo, que religa, do latim, “RELIGARE”, estamos falando também de um fenômeno religioso. Este é o lugar que mais liga, religa e promove o encontro de nossos filhos. Sobrinhos e seus amigos.

Um dos maiores desafios da sociedade pós-moderna, urbanizada, consumista e carente de líderes humildes e corajosos, é oferecer espaços de convivência, onde se construam e se fortaleçam laços de vínculo e pertencimento. As juventudes, sobretudo, estão deserdadas do direito à convivência e do direito ao sonho. O poder público fracassou em diversas áreas: lazer, transporte, segurança, esporte, além do escândalo que é a falta ou a insuficiência de saneamento básico. E, a partir da realidade cruelmente desumana em que vive o nosso país, depois de (usando aqui o tema que faz transbordar o coração e o cérebro do presidente eleito fradulentamente) grande parte da população ter usado à urna para “fazer cocô”, estamos assim: cada vez que o presidente abre a boca ou o governo anuncia algo, cobrimos de dejetos os sonhos e as realidades de milhões brasileiros e brasileiras, sobretudo, crianças, adolescentes, jovens e idosos. O judiciário brasileiro está com câncer em seu coração, criado pelos crimes da “Operação Lava Jato”, já quase consenso na sociedade de que se trata de Organização Criminosa, criada para destruir a democracia brasileira e entregar os seus recursos, sobretudo o pré-sal. Para isto, destruíram o elemento simbólico de nosso povo, em sua maioria analfabeta ou semialfabetizada religiosa e politicamente. Depois disso, tudo é possível acontecer. Inclusive nada! Até quando ficaremos calados e imóveis “dando milho aos pombos”, enquanto a idiotice generalizada em parceria com o ódio como ideologia disfarçada de mau humor, frutos das milícias que, efetivamente chegaram aos poderes, condenam à desgraça, esta geração e põem em risco a próxima?  Retomando a esperança e a alegria do início deste texto, diz o Papa Francisco, ao falar de Jesus de Nazaré, na Exortação pós-sinodal CHRISTUS VIVIT – para os jovens e para todo o povo de Deus, “Teve a coragem de enfrentar as autoridades religiosas e políticas do seu tempo; viveu a experiência de se sentir incompreendido e descartado; sentiu medo do sofrimento e conheceu a fragilidade da paixão; dirigiu seu olhar ao futuro, abandonando-se nas mãos seguras do Pai e à força do Espírito. Em Jesus, todos os jovens podem reconhecer-se.” (Nº 31)

Viva, os Atletas do Tio Bain!

Curitiba, 13 de agosto de 2019 – Jogo celebrativo do retorno do Atleta Natã Veloso, após dois anos e meio em Dublin, capital da Irlanda. E, 18 de agosto de 2019 – Domingo, dia de grande festa, com toda a família reunida numa belíssima celebração de agradecimento a Deus pela chegada do Natã.

João Santiago. É Teólogo, Poeta e Militante.

 

[1] Bain: para quem não sabe, esta é uma das formas simplificadas para o nome próprio “Sebastião”, que, primeiro se torna “Bastião”, também “Tião, e, na minha família, ganhou a denominação de “Bain para o meu irmão caçula, fundador e líder deste grupo.

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