É GOOOL!!! DE QUEM???
Sessenta anos depois o Brasil será novamente o país sede de uma copa do mundo de futebol. Digo sessenta anos porque, a copa do mundo já começou. Mesmo que não tenhamos ouvido o apito inicial, que nossa seleção não tenha treinado nem pênalti ainda, a bola já rola nos gramados orçamentários. Há parte significativa da torcida que prepara mudanças nas regras do jogo. É pênalti contra o time dos patrocinadores, mas à moda do personagem Zeca Diabo do seriado, “O Bem Amado” de Dias Gomes, ele vai ser cobrado no outro gol. No gol do time do torcedor, que apesar de ser o maior patrocinador, como contribuinte, fica no banco de reservas. Às vezes nem isto. Você vai aceitar ficar no banco de reservas? De 1950 para cá muitas coisas mudaram e muitas coisas mudaram muito no Brasil. Porém, muitas outras, pouco ou nada mudaram e temos o dever de não nos permitirmos ser enganados pela maquiagem. O governo e a nação brasileira trabalharam juntos e bem para garantir que a copa de 2014 fosse aqui. Mas a aquele foi o menor trabalho. Nossa tarefa gigante começa agora. É não permitir que, mesmo tendo um bom desempenho em campo e sendo hexacampeão mundial de futebol percamos a copa da participação política por WO. Temos que entrar em campo e jogar com os dois olhos no bico da chuteira.
Não basta, então, gritarmos, é goool! Temos que antes de comemorarmos perguntar: gol de quem? Não podemos comemorar quando o gol é contra. Não podemos também fazer gol contra. Não podemos comemorar a marcação do pênalti. Só depois que a bola entrar. Temos que combinar antes de tudo, que gol de mão leve com os recursos públicos não vale. Será anulado e desclassificará o atleta “espertinho” que tentar tal infração. Temos que pedalar, driblar a ganância dos investidores e lançar de um lado para o outro a pergunta: quem ganha e quem perde com isto? Não podemos entrar em campo perdendo, para a omissão, para a ilusão de que o juiz dará conta de tudo. Precisamos levantar a bandeira da moralidade, da transparência e da cidadania e marcar impedimento para os avançadinhos que em nome da copa dizem que tudo está valendo. É preciso uma marcação cerrada, nada de deixar uma avenida livre no meio de campo das licitações ou nas laterais do orçamento para a especulação imobiliária contra-atacar. Vamos botar a bola no chão e cadenciar a partida. Nada de despejos violentos, nada de tornar o jogo maior que o campeonato. A copa não é maior que o Brasil. A nossa copa principal é continuar avançando na educação, na saúde, na segurança pública e na construção dessa nação. A copa não pode não pode comprometer o futuro do Brasil. É preciso que fique claro! Quem apita esse jogo é o Ministério Público! E as regras estão na Constituição Federal brasileira. Nada de mudar as regras com o jogo andando. A sociedade completará o time da arbitragem. De um lado as instituições organizadas auxiliarão o ministério público, bandeirando sempre que algo ameaçar a regra do jogo. Do outro lado a sociedade representada pelos comitês populares da copa auxiliará, com informações precisas, com dados reais e sempre com bom senso, e contribuirá também para que nada passe despercebido. O quarto árbitro será o torcedor, que poderá ser chamado de cidadão, de patrocinador ou de povo, simplesmente. Com o quarto árbitro ficará o chip que acusará quando é bola fora e quando é gol legitimo. A suspensão ou a mudança da regra, alteração da lei será punida como falta gravíssima! Com pênalti e cartão vermelho! Será mandado para escanteio qualquer tentativa de desvio de recursos, qualquer casuísmo da CBF ou da FIFA como o estado de exceção temporária. Fica assim combinado. O direito à vida, á educação, à moradia, à segurança, à opinião e à informação, precede o direito à copa. Quem colocar o direito à copa na frente do direito á vida e dos direitos humanos e sociais básicos, escritos em nossa constituição, estará impedido de continuar a jogada e a partida. Será desclassificado. O Brasil continua o país do futebol, mas também ainda é o país do “jeitinho”, da vantagem e da corrupção. O futebol brasileiro também tem seu “Ricardão” disposto a levar vantagem em tudo. Certo? Trazendo presente outro personagem da televisão, agora da novela Roque Santeiro, onde “Sinhorzinho” Malta, dizia: “To certo, ou to com a razão?”. Este autoritarismo como regra e prática não combina com o momento extraordinário que vive nosso país. Pode alguém ser contra a copa? Claro que pode. Da mesma forma que pode alguém ser a favor. Porém, a julgar pela reação de apoio popular, guardado o componente emocional e promocional, feitos com tanta competência, à época da escolha do Brasil como sede, a esmagadora maioria apóia a copa. Eu faço parte dessa maioria. Isto não nos impede de ser contra o que querem e podem alguns fazerem com a copa. Um balcão de negócios pouco ou nada aceitáveis. Ao contrário nos obriga a ser e dizer que o somos.
O Brasil nos convoca e nos escala para jogar na copa. É hora de jogar em equipe. Se cada um e cada uma ocupar a sua posição em campo, souber quando deve avançar e quando deve recuar. Quando deve segurar e quando deve passar a bola. Se vestirmos essa camisa com garra e orgulho dela, poderemos ser mais que hexacampeões mundiais de futebol. Seremos, finalmente cidadãos e cidadãs capazes de decidir e guiar os destinos de nosso país. Assim, a copa pode ser mais que um momento esportivo e se transformar em momento de vivência de cidadania. Em momento pedagógico e político de crescimento.
Curitiba, 07 de Agosto de 2011.
João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante.
Mestrando em Teologia pela PUC/PR.
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