O mundo do Natal é de luz, (Mt 1,21), luz que vence as trevas que não a resistem, (Jo 1, 1-5). É muito mais feito de perguntas e conflitos do que de respostas e quietudes, (Lc 1,31-34). Maria, assustada, faz uma pergunta e obtém uma resposta, mas esta carece da fé, que se opondo ao medo, a faz meditar. Suscita muitas outras perguntas. O Natal é muito mais a luz da palavra que se faz diálogo e ilumina as nossas sombras. O verbo se fez carne e habitou entre nós, diz João, mas a palavra também se fez gente e em forma de diálogo regou a nossa gentidade. Fazendo do amanhã o hoje.
O Natal é um Sinal dado por Deus, (Is 7,14), cuja luz, denuncia a violência e nos orienta para a construção da paz, (Is 9,6), cujas chamas, ardem no direito e na justiça. O Natal é a vitória da alegria, da humildade (Zc 9,9) porque é a presença do Deus conosco, (Mt 1, 23). O Natal é Deus nos dizendo a todo instante, não tenham medo, (Lc 1, 30-31), o que estou trazendo é uma Boa Nova, (Lc 2,10), tenham fé, observem e acreditem nos sinais, (Lc 2,12). É a simplicidade de se curvar diante de um recém-nascido, (Fl 2, 8-10) vendo nela o reinado de Deus como Pai e Jesus como Senhor. Cuidado, porém, não se trata de uma relação de poder, mas de amor. O Senhor aqui é aquele/a que serve, “fora da casinha” das doutrinas e das ideologias. Esse Jesus triunfalista, gloriosamente maquiado de herói, todo poderoso, apresentado nos altares de sacrifícios modernos, está a serviço das instituições e explorando os pobres. Não é o Jesus de Nazaré, o Filho de Maria, amigo de Dimas, avesso às honrarias e espetáculos. Isto não é o Natal. Os que perseguiram o Natal, o prenderam injustamente e o crucificaram cruelmente, agora põem na sua boca a teologia que o crucificou. Hoje masculinizada, machista, homofóbica, racista e, às vezes disfarçada de “bem viver”.
É interessante olharmos as ruas, as cidades e a vida, à luz do Natal. O que sentimos ao nos depararmos com uma família em situação de rua? O que nos faz pensar quando encontramos uma criança abandonada e faminta? Por que ainda temos crianças rejeitadas antes de nascer pelos simples fato de seus pais estarem “fora da casinha” onde o Sacramento é maior que o Sagrado? Jesus, a quem dizemos seguir e amar, por acaso, não vivia situação semelhante? Celebrando a Novena de Natal, nas casas das pessoas, ouvindo suas alegrias, esperanças e tristezas, o Natal se revela vida em abundância. A Palavra se faz carne em forma de gente e a gente se faz Natal. A Igreja Doméstica se faz o caminho do Reino e Jesus tem tempo para brincar com as crianças e nos fala com a própria boca. Liberta do ritualismo, do rubricisimo e das doutrinas que escravizam, a fé move montanhas e o Natal é realmente luz e Boa Notícia.
Feliz Natal! Feliz 2014. Pergunte e pergunte-se sempre: Será? Por quê? Deus costuma se esconder no obvio e se revelar no inesperado. Boas surpresas em 2014. O Natal está sempre a serviço da Vida, do Reino de Deus. Reino de paz, de partilha, de justiça e de humildade. As instituições, nem sempre.
Curitiba, 07 de Dezembro de 2014.
João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante.
Mestre em Teologia e autor do Livro “Gamela de Pedra”. À venda em breve. Entre outros.
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