Vivemos em um tempo de se cometer maldades e receber aplausos ao invés de censura. É por isso que se cometem as maldades mais absurdas que se possa imaginar e não se tem nem mesmo a preocupação de disfarçar. É tempo de se cometerem maldades.
Esse é um tempo de maldades onde adolescentes que protestam exigindo respeito pela educação e pelas escolas, podem ser confinados e cortar a luz, a água e a comida, e proibir que entre ou saia alguém. De se contratar milícias para os aterrorizarem na calada da noite, ou fechar os olhos e ouvidos para o que elas fazem, e ainda classificar os estudantes de vândalos e criminosos, afinal as “autoridades” querem dialogar. Eles é que não sabem o que é uma Participação Escolar Correta.
É tempo de maldades governamentais do tipo, tirar os escassos recursos que iam para os mais pobres, através de políticas de inclusão social e transferir para os mais ricos para que eles não batam as panelas. Afinal, pobre é um problema das Igrejas.
É tempo de se cometer maldades educacionais eliminando da grade curricular do ensino fundamental e médio, as disciplinas que despertam o senso crítico e ajudam a formar pensamento próprio. Afinal, sempre foi assim, os pobres foram educados para trabalhar. E trabalhar se aprende é trabalhando. Estudo é para quem pode pagar. É um Privilégio Especial de uma Classe.
É tempo de se cometer maldades judiciais, prendendo coercitivamente os que pensam e agem diferente das elites, que discordam de suas verdades. Afinal, foi a verdade dessas elites que trouxe este país até aqui, às dimensões tão profundas. E um líder popular não pode viver em paz enquanto oferece o risco de fazer os mais pobres acreditarem que as nuvens não são de algodão.
É tempo de maldades éticas, como tornar como regra, quase obrigação, ou exigência, que os ministros de Estado sejam corruptos, ou pelo menos respondam a acusações de corrupção. Afinal, sempre foi assim e sempre “deu certo”.
É tempo de se cometerem maldades eleitorais, do tipo, quebrar a validade do voto dado. Agora o voto ou o resultado de uma eleição, pode ser contestado e os eleitos podem ser cassados por um grupo de corruptos que se organize e conteste a validade do processo eleitoral ou a conduta de quem foi eleito, mesmo sendo uma pessoa honesta e não tenha cometido crime algum. Basta que não aceite se curvar diante das exigências dos que de fato mandam neste país. Se preciso for, muda-se a lei, ignora-se a justiça e a maior prova de dolo é a convicção do julgador.
É tempo de maldades orçamentárias e de cortar drasticamente o orçamento da educação, da saúde e de destinar mais recursos para os heróis do judiciário e da mídia. Afinal, são eles o túmulo da justiça, da ética, da imparcialidade e da democracia.
Este é um também um tempo de maldades profundas, em que um conselheiro ou uma conselheira tutelar não precisam defender ou proteger a infância e a adolescência, mas a escola, a diretora ou diretor e os pais, mesmo que estes cometam algum tipo de deslize. Afinal, quem vota para elegê-los são eles e não os “pirralhos” que nem sabem o que é uma Proposta de Educação Continuada.
É tempo de maldades disciplinares, do tipo, bater em professores e professoras, em praça pública, para que todas e todos saibam com quem estão deixando os seus filhos. Essa “gentinha”, que nunca foi votada, e ousa desafiar vossas excelências os deputados legitimamente eleitos e, inclusive desafiam e desrespeitam o governador ou a governadora, igualmente eleito e de uma conduta ilibada, como todos sabem. Não é pra rir... Eles nem sabem o que é uma Política de Educação de Camburão!
É tempo de maldades políticas, de mandar prender os adversários políticos para interrogá-los. É hora de grampear seus telefones, vazar as gravações e disponibilizá-las para a agência de propaganda oficial, para que seja transmitida em horário nobre. Quem mandou negar-se a obedecer ao esquema secular de corrupção e favorecimento e cortar os “investimentos” em comunicação?
É tempo de maldades étnicas, de naturalizar o extermínio de jovens e adolescentes, sobretudo negros, nas periferias das cidades e justificar com a acusação de que eles são vadios, não trabalham, não querem estudar e ainda resistiram à ordem de prisão desacatando a “autoridade” que agiu em “legítima” defesa. Se não tiver nenhuma prova contundente, é só explicar que foi uma bala perdida.
É tempo de cometer maldades corporativas, fechando os olhos para as denúncias feitas contra os irmãos de fé e de “comunidades” que são cúmplices do sistema e do esquema político que não quer nem ouvir falar em justiça para todos. Justiça é proteger os amigos, para os inimigos á dureza da lei, sob a conveniência da interpretação de quem a está aplicando. Mesmo que a denúncia seja feita no tribunal de exceção, através de uma delação premiada. Afinal, foi assim que este país “deu certo” até aqui. A população não sabe mesmo o que um Processo de Eliminação de Concorrentes!
É tempo de maldades midiáticas, convocando todas as agências, oficiais ou parceiras de propaganda, para transmitir em tempo real, ao vivo e em cores, a prisão dos adversários políticos. Eles ousam discordar da corte e do império, insistem em falar de transparência e isto é coisa ultrapassada. Isso é ideologia de esquerda. Nem que para isso se tenha que dobrar os valores do “investimento” em comunicações e os privilégios do judiciário. Essa é também a hora de chamar os líderes da organização, todos de conduta ética ilibada, pois os recursos que eles se apropriaram são “justos” e do conhecimento de todos do grupo, para fazer os comentários jornalísticos e velarem pela “verdade”.
É tempo de maldades pedagógicas, de dizer claramente que este povo é, acima de tudo, ignorante. Massa de manobra doutrinada. Já que ele não sabe nem mesmo o que significa uma Prisão de Esquerda Coercitiva. Não sabe votar, pois errar uma vez, duas ou três, até que o Supremo Saber Global admite. Agora, continuar votando errado, elegendo quem lhes favorece, não! É muito perigoso que de tanto errar e tentar acabem aprendendo. É o Perigo de uma Educação Conscientizadora!
Curitiba, 10 de Novembro de 2016.
João Santiago.
Teólogo, Poeta e Militante.
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