A carta foi produzida coletivamente na reunião da Coordenação Nacional e Comissão Nacional de Assessoras e Assessores da PJMP ocorrida em Caucaia, Arquidiocese de Fortaleza, Ceará, entre os dias 29 e 31 de março de 2019. Confira a carta na íntegra.
CARTA EM REPÚDIO À COMEMORAÇÃO DO GOLPE DE 64
Fortaleza – CE, 31 de março de 2019.
Nós da PJMP manifestamos nesta carta aberta nosso repúdio à convocatória feita pelo Governo Federal para que se comemore hoje o golpe civil-militar de 1964. Relembramos que a nossa pastoral nasceu no contexto de luta e resistências, ainda durante tenebroso regime de exceção. Posteriormente, contribuiu na reconstrução da sociedade brasileira logo após o período nefasto da ditadura civil-militar, com vistas a um Estado nacional democrático.
Miramos para a bandeira e lemos a seguinte frase: “Ordem e Progresso”. De certa forma é pertinente pensar que essa é uma afirmação mentirosa e contraditória, pois, nos dias atuais, vivemos em um país de extremos retrocessos e desordem. Do mesmo modo, a Constituição Federal de 1988, em seu parágrafo primeiro, diz que “Todo poder emana do povo”, contudo são gritantes duas perguntas que não querem calar: 1. Será que está sendo levado em consideração este artigo da Lei Maior quando o Estado, oficialmente, convoca a celebrar um período histórico que privou as cidadãs e os cidadãos do direito à livre opinião e ceifou a vida de tantas e tantos outros? 2. Se o poder emana do povo, por que os cidadãos e cidadãs são muitas vezes impedidos e impedidas de participarem das discussões e decisões políticas?
É inadmissível que após a quebra do sistema ditatorial, no qual a violência era força maior, a nação celebre com festas o infame golpe de 1964. Isso é preocupante, pois no presente muitos jovens, mulheres e homens estão sendo surrados e mortos por pensarem uma sociedade com igualdade de direitos para o povo.
Os poderosos defendem o retorno da intervenção militar, naturalizando o ato de matar quem ousa pensar diferente. Foi assim o assassinato de Marielle Franco, executada em 2018. Mulher que ocupava um espaço de destaque social, era contra a intervenção militar e lutava para que a população, em especial o povo negro e das periferias, tivessem sua dignidade respeitada.
Hoje não é dia de comemoração! É momento de unir cordões, lembrando-nos do sangue derramado pelos mártires sociais. Que seus testemunhos sejam combustível que impulsiona nossa luta. Acordemos Brasil, antes que o colorido da nossa bandeira se apague, entoemos nossos gritos de luta e transformemos a triste realidade que estamos imersos.
Com resistência e esperança,
Coordenação Nacional da Pastoral da Juventude do Meio Popular – CNPJMP
Comissão Nacional de Assessores da Pastoral da Juventudes do Meio Popular – CNAPJMP
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