O QUE MAIS PODE LULA?
“Virá!:
Impávido que nem Muhammed Ali.
Virá que eu vi:
Apaixonadamente como Peri.
Virá que eu vi:
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee.
Virá que eu vi:
O Axé do Afoxé, filhos de Gahndi. Virá!”.
O mundo assiste á ascensão do Brasil no que parece cada vez mais ser uma nova ordem mundial. É o Brasil através de seu presidente e de suas políticas sociais, refletidas em seus discursos emocionantes, humanos e humanizadores ocupando seu lugar no mudo. A identidade existente entre nosso presidente e nosso povo não cabe nas avaliações racionais e muitas vezes passionais que tentam fazer dela. A clarividência e a humanidade do presidente Lula não podem ser vistas com canudos, óculos, lunetas e muito menos com simples olhos. É preciso olhar e ver com o sentimento, com o coração. Cada vez que o mundo rico ouve falar hoje a palavra BRASIL, ele sente uma vergonha mortal de ter um quinto da humanidade, mais de um bilhão de pessoas, vitimada do mal da fome. Lembra do presidente Lula.
Há trinta anos, em circunstâncias adversas, onde falar ainda era crime e ser contra custava à vida, surgia uma revolução na concepção sindical brasileira. Nascia um novo sindicato, classista, ideológico, consciente e fazedor de consciência. E com ele, apresentado por uma voz meio rouca, gerada numa língua que de presa não tinha nada, coreografada por gestos manuais maestralmente traçados no sentido vertical, com o dedo indicador esticado, o Brasil conhecia Luiz Inácio da Silva. O Lula. Abria-se uma página nova do sindicalismo brasileiro e o mundo conheceria em breve os metalúrgicos do ABC paulista. Pela primeira vez o presidente do sindicato não tinha seu retrato com mais destaque que sua ação sindical e sua prática política. Era, no entanto, estranho para alguns “teóricos”, o fato de ele conversar com todo mundo. Até com os empresários. Ouviam-se os primeiros cantos dos galos na alvorada da democracia brasileira. Assistíamos à abertura da olimpíada de conquistas da classe trabalhadora brasileira.
Pouco tempo depois o agora líder de massas Lula, lidera a fundação do Partido dos Trabalhadores – PT – e pela primeira vez nasce no Brasil um partido de parto normal. Lula, apesar de andar sempre à frente nas idéias, sempre soube caminhar com os companheiros. Esse termo, aliás, passou a definir a identidade de uma geração de militantes e um momento histórico do Brasil. Tornou-se quase sinônimo de Lula. Aliás, Lula jamais teve medo do novo e se tiver que dar uma marca para sua carreira política, será a ousadia. Quando a maioria do Partido o queria reeleito deputado e ajudando a eleger outros nomes, ele mais uma vez ousou. Abriu mão da vida parlamentar e foi peregrinar e conhecer o Brasil e o povo brasileiro nas caravanas da cidadania. Foi assim que conheceu tão bem os problemas do povo, especialmente os mais pobres, e assumiu um compromisso com ele. Essa escola foi, a meu ver, decisiva na formação do chefe de Estado e líder mundial no qual Lula se tornou. Sintonizado com as necessidades de seu povo e comprometido com elas. Jamais sofreu do mal mais freqüente à grande parte dos militantes de sua geração quando chegam ao governo, a crise de identidade, tão pouco caiu em reducionismos ideológicos quase patológicos para alguns.
Um grande partido como o PT somente é possível construir com um grande líder e isso o PT sempre teve. Lula soube ver vitória aonde muitos viam derrota. Soube construir a vitória do PT e dos trabalhadores brasileiros até quando eles mesmos não entendiam. Soube ser líder da oposição sem à arrogância nem a imbecilidade de que padece hoje sua oposição. Certa vez, durante um dos mais difíceis momentos de nosso governo, quando muitos “profetas” da desgraça diziam que estava tudo perdido, eu disse que o povo daria sustentação ao presidente. Sorrisos irônicos pareciam zombar de mim. Eu acrescentei: além de um partido diferente nós construímos um mito. E esse mito se chama Lula. E mitos ninguém destrói assim. Mais risos. Uma semana depois senti que estava certo quando em conversa de intervalo com o professor Clodovis Boff, na PUC-PR, ele me disse: “se eles tentarem tirar Lula meu filho, o povo vai às ruas em defesa do presidente!” Eu, emocinado, lhe perguntei. O senhor acha isso mesmo, professor? Ele me respondeu: “Eu tenho certeza, meu filho. Trata-se do presidente dos pobres! Bom você sabe isso melhor que eu”.
A coragem de decepcionar muitos que viam suas receitas prontas e infalíveis ignoradas pelo governo e a capacidade de compor com o diferente somado ao profundo senso de responsabilidade e o apoio popular garantiram o fôlego para a difícil travessia. Serviu também de desculpa para muita gente que não tem vocação para governar e tem extrema dificuldade de enxergar a realidade concreta preferindo a idealidade. Foram para a oposição e numa confortável virtualidade encontraram novas desculpas para “justificar” seus discursos carentes de práticas. Vinte anos após promulgar sua constituição cidadã, como a chamou o Dr. Ulisses Guimarães; cinqüenta anos após Juscelino construir a encantadora Brasília como extensão do céu do cerrado brasileiro; sessenta anos após nosso ultimo evento esportivo internacional, a saudosa e inesquecível copa do mundo de 1950, o Brasil chega com Lula ao topo do mundo. Ganha o direito de sediar uma olimpíada.
Depois de sediar os jogos pan-americanos no Rio de Janeiro em 2007 e apresentar competência gerencial e de segurança, ganhamos medalhas importantes nas olimpíadas da vida. Praticamente erradicamos a miséria, reduzimos a pobreza, estamos investindo significativamente na educação. O Brasil ganha projeção e respeito no mundo. Lidera com uma política externa ousada o processo de democratização da América Latina; inicia um novo modelo de solução dos conflitos internacionais como compondo as forças de paz no Haiti e agora em Honduras liderando com sabedoria e coragem a mediação do conflito; o conjunto de fatos que coloca o Brasil nos trilhos do desenvolvimento, conta ainda com a incansável busca de nosso presidente da construção de novas relações internacionais. Novas relações políticas, comerciais e ecológicas.
É neste cenário que o Brasil, depois dos jogos pan-americanos de 2007, receberá a copa do mundo de futebol de 2010 e as olimpíadas de 2016. Esta ultima sendo disputada com Chicago, Tóquio e Madrid. Mais uma vez o Brasil demonstrou competência, originalidade e o presidente Lula deu um show de brasilidade, humanidade e sinceridade. Ao vê-lo chorar após o anuncio da vitória brasileira, assim como, entre outros momentos, na sua primeira posse em 2003, lembrei-me de Tomás Borge, militante preso na revolução nicaragüense de 1979: “não se pode ser revolucionário sem lagrimas nos olhos e sem ternura nas mãos”. Essa sábia frase parece-me definir o presidente Lula. Precisamos dizer, todos (as) que acreditam que essa foi a maior vitória político-esportiva da história do Brasil. Até porque sempre terá os que dirão que Chicago não queria mesmo ganhar, que Tóquio não se esforçou e Madrid não era um adversário forte mesmo.
Agora, depois de tudo, temos que continuar sonhando, comemorando, mas é hora de agir. Antes do pré-sal o Brasil já era rico. Sem precisar mergulhar nas profundezas do mar e sem ter que perfurar um palmo do chão, descobrimos verdadeiros tesouros, verdadeiras riquezas e talentos. Nas favelas, nas periferias, nos lençóis de pobreza, quando não de miséria, nascem campeões olímpicos, os melhores jogadores de futebol do mundo, atletas corredores e boxeadores, com uma simples condição. Ter atendidas as duas maiores necessidades humanas. Oportunidade e reconhecimento. E isso, cada vez mais começa a surgir, cada vez para mais brasileiros (as). Compete-nos também prosseguir desenvolvendo processos de controle social para que não haja abusos, desvios e corrupção. Quando vejo o Brasil sendo respeitado, é porque hoje ele se dar o respeito. Respeita e exige respeito como disse o presidente Lula. Quando vejo como o mundo trata hoje nosso país e nosso presidente e o vejo fazendo seus sempre ousados pronunciamentos, com doçura, dureza e ternura, lembro-me dessa musica de Caetano Veloso: “virá!: impávido que nem Muhammed Ali. Virá que eu vi: apaixonadamente como Peri. Virá que eu vi: tranqüilo e infalível como Bruce Lee. Virá que eu vi: o axé do afoxé, filhos de Gahndi. Virá!” Assim virá o Brasil que sonhamos. O rosto impávido do presidente Lula é cada vez mais o rosto do Brasil; a paixão com que defende uma nova ordem mundial e a tranquilidade com a qual denuncia a desumanidade contra os pobres do mudo, é um axé que só pode vir de uma grande alma.
É inevitável me perguntar: o que mais pode fazer Lula? Um homem visionáro, cuja clarividência e espírito democrático e pacifico, não fosse à falta de alma de nosso tempo, estaria no grau máximo de dignidade e honraria. No que pese estar, mas, mesmo assim, lhe reconhecem um mínimo de seus feitos. Sua incrível força de caráter, algo tão escasso no meio político desse nosso tempo, ressuscitou e fez crescer a esperança, primeiro de seu povo, depois, por conseqüência, de outros povos. Eu não exitaria dizer sobre ele, parafraseando o que disse Cícero (106ª/C a 44ª/C) sobre Cipião: “chegou à presidência numa idade para ele normal, mas quase demasiado tarde para a república”. Falo sempre para meus amigos que tamanha diferença faria para esta nação se Lula tivesse chegado à presidência de nosso país, antes das desgraças que o causaram, sobretudo, nos últimos vinte anos que antecederam sua chegada. A dilapidação do patrimônio público nas privatizações, por exemplo. Não minimizando de nenhuma forma as iniqüidades anteriores a este período.
O presidente Lula é um líder que pensa em séculos, não pensa em meses, em anos, em mandatos. Por isso que diz repetidas vezes que o século XXI é o século do Brasil. Pensa e age a partir da justiça e dos direito humanos e não de interesses. É assim quando diz que levar a copa do mundo para a África é uma questão de justiça. Quando Lula mobiliza a seleção brasileira para ir para o Haiti e mostrar as entranhas do mundo para ele mesmo, há quem veja nisso “pão e circo” e até propaganda da Nike, como eu ouvi algumas vozes “proféticas” ecoando. Diante de tudo que vivemos nos últimos anos no Brasil, cada dia mais pessoas se perguntam e começam a se preocupar com a continuidade da vida. Qual será a próxima grande conquista de Lula? Será eleger seu sucessor? Talvez sua sucessora? O Brasil precisa continuar subindo a ladeira e andando para frente. É hora de lutar. É hora mais uma vez de lágrimas nos olhos e ternura nas mãos.
Brasília, 03 de Outubro de 2009.
João Santiago – Poeta e Militante.
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