Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: [email protected]
Goiânia, 20 de outubro de 2020
O artigo foi publicado originalmente em:
Na história do ser humano, no mundo com o mundo (a Irmã Mãe Terra, Nossa Casa Comum), ser Igreja significa ser - nessa mesma história - a continuidade da presença visível de Jesus de Nazaré.
Nós cristãos e cristãs não queremos “imitar” Jesus de Nazaré de maneira formal e a-histórica, de maneira individualista e subjetivista, de maneira mecanicista e fundamentalista, mas queremos viver hoje como Jesus de Nazaré viveu no tempo dele; lutar hoje como Jesus de Nazaré lutou no tempo dele; morrer hoje como Jesus de Nazaré morreu no tempo dele e ressuscitar hoje como Jesus de Nazaré ressuscitou no tempo dele. Queremos, pois, segui-lo.
Meditamos - profunda e permanentemente - a vida de Jesus de Nazaré para perguntarmo-nos sempre: nessa situação concreta social (sócio-econômico-político-ecológico-cultural-religiosa) e individual na qual nos encontramos - como Jesus de Nazaré agiria?
Hoje, “contemplamos a Jesus Cristo tal como os Evangelhos nos transmitem para conhecermos o que Ele fez e para discernirmos o que nós devemos fazer nas atuais circunstâncias” (Documento de Aparecida - DA 139).
A Igreja, “a todo momento (reparem: a todo momento!), deve escutar os sinais dos tempos (ou seja, ouvir a voz de Deus nos acontecimentos) e interpretá-los à luz do Evangelho (ou seja, na ótica dos Pobres, desde os Pobres, a partir dos Pobres), de tal modo que possa responder, de maneira adaptada a cada geração, às interrogações eternas sobre os significados da vida presente e futura e de suas relações mútuas. É necessário, por conseguinte, conhecer e entender (reparem novamente: conhecer e entender!) o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole frequentemente dramática" (Concílio Vaticano II. A Igreja no mundo de hoje - GS 4. Cf. também: DA 33).
O método (“caminho”) - “ver, julgar, agir” (“analisar, interpretar, libertar”) - vivido pela chamada “Igreja da Caminhada” - nos coloca em atitude de escuta permanente. Ele "nos permite articular, de modo sistemático, a perspectiva cristã de ver a realidade (que é a perspectiva “desde os Pobres”); a assunção de critérios que provêm da fé e da razão (ou seja, da razão iluminada pela fé) para seu discernimento e valorização com sentido crítico; e, em consequência, a projeção do agir como discípulos missionários de Jesus Cristo” (DA 19).
Para viver isso, a Igreja - que somos todos e todas nós seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré - precisa voltar ao Evangelho, ser uma Igreja realmente “evangélica”, se despojar e libertar de todas as insígnias imperiais, feudais e capitalistas que - no decurso da história - incorporou em sua estrutura e que desfiguraram totalmente o seu rosto.
O Concílio Vaticano II (1962-1965) e a II Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha de Medellín (1968) abriram caminhos para que possamos fazer isso. Cabe a nós percorrer, com amor e perseverança esses caminhos! Até o momento o processo de renovação e de libertação da Igreja depois do Concílio Vaticano II foi longo, com muitos altos e baixos, avanços e recuos, mas a esperança nunca morre. A luta continua!
Nessa primeira série de artigos - a começar do presente texto, que é a introdução - pretendo fazer algumas reflexões teológico-pastorais sobre a Igreja, na perspectiva da Eclesiologia da Libertação, tendo como pano de fundo e fonte inspiradora a “Fotografia da Igreja que o Concílio Vaticano II sonhou” de Dom Aloísio Lorscheider.
“O Vaticano II faz-nos passar:
Mãos à obra!
Marcos Sassatelli, Frade dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP)
Professor aposentado de Filosofia da UFG
E-mail: [email protected]
Goiânia, 20 de outubro de 2020
O artigo foi publicado originalmente em:
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