Enviado por PJMP em ter, 03/07/2012 - 15:05
Trinta anos é uma marca histórica na vida de uma pessoa. Com trinta anos, consciente ou inconscientemente, nós paramos. Não por cansaço, não! Com trinta anos a gente nem entende bem quem fala de cansaço. A gente fala de preguiça, de vontade, de desejo e de fé. Se vamos ou se não vamos á algum lugar, se fazemos ou deixamos de fazer algo, é por termos ou não vontade, é por desejarmos ou não, é por sentirmos ou não aquela preguiça necessária ao ócio e que aprendemos ser pecado. É por termos ou não fé, na força superior que nos guia e nos mantém de pé, no evento, na companhia, no possível resultado. Jamais por cansaço. Aos trinta anos a gente pensa mais no que deseja fazer do que no que já fez.
Aos trinta anos a gente olha para trás com os mesmos olhos que olha para frente. Mesmo vendo, querendo e buscando coisas diferentes. A gente já sabe o que quer e o que não quer. E vai atrás do que a gente quer. Com segurança, mesmo que com um pouquinho de medo. A gente descobre que quem não tem medo não precisa de coragem. A gente ama com amor verdadeiro. Sabe separar um amor de um caso. Um beijo de um presente. Um toque de um simples contato. A gente sabe que, por mais que sejamos incompletos, interdependentes, carentes, influenciáveis e influenciados, nós somos os principais responsáveis pelo que venha a nos acontecer. Inclusive, pelo que, por ventura, não nos aconteça. Segundo os códigos nacional e internacional, aos trinta anos, deixamos de ser jovens. Calma! É mentira! A gente fica jovem diferente. Jovem moderno, sereno, responsável, consciente, com a liberdade possível. Descobre que a liberdade é sempre em possibilidade e relativa.
Aos trinta anos a gente descobre, mesmo que não perceba, ou não aceite, que tem dez anos para se preparar para ser velho. É, porque aos quarenta tudo muda. Calma! Mais uma vez, calma! Porque aos trinta anos a gente também não tem mais aquele medo da mudança. A gente descobre que mudanças são normais e constantes, e se a gente tomar a direção da história nas mãos, a gente pode até escolher o tipo de mudança que a gente quer. Aí a gente quer mudar é para melhor. Descobre que pode. E quando a gente descobre que pode, a gente faz. Não há nada que nos impeça.
Aos trinta anos a gente sente uma necessidade vital de ter ou de ter tido um grande amor. Bom mesmo é ter. Às vezes é nesta data, nesta passagem, que a gente descobre que o teve. Ou que o tem. E não importa se ele é proibido ou não. Se ele é impossível ou não. Aliás, aos trinta anos, a gente descobre, mesmo que não aceite plenamente, que não existe amor proibido. Tampouco amor impossível. Existe, este sim, amor cheio de proibições. Repleto de impossibilidades. Descobre, inclusive, que não existe amor verdadeiro sem estas exigências. Porque não existe amor, onde não há sofrimento. Não é porque o amor assim o queira, não! Mas porque existe muita gente que não sabe o que é amar. Muitos com mais de trinta anos. Estavam dormindo ou não viram esta passagem. Muitos que morrerão sem ter vivido. Sem ter vivido inclusive um grande amor. Aos trinta anos a gente descobre inclusive a diferença entre uma mentira e uma verdade que ainda não aconteceu.
Aos trinta anos a gente ainda tem muito dos vinte, mas já pensa nos cinquenta. Aos trinta anos nós vivemos o “um, dois, três” da existência humana. Já sabemos que temos duas possibilidades. Multiplicar por dois, isto muitos conseguirão. Ou multiplicar por três, isto é coisa para poucos. Já multiplicar por quatro, não tem na nossa tabuada. Mas, na matemática fracionaria, a gente chega, deste jeito, ao primeiro terço da vida possível. Por isto, e isto é o que mais nos importa, com trinta anos a gente deve ter aprendido a rezar. O terço é o começo do desvelamento do mistério. Mas pode ser o mistério do desvelamento do começo. Aos trinta anos a gente sente a necessidade de, se ainda não souber, aprender a rezar. É a maturidade da fé. Quem não aprende aos trinta anos, possivelmente só terá nova oportunidade com a sabedoria, as dores e a carga da velhice. Talvez, neste caso, descubra que aprendeu um pouco tarde, que ficou por muito tempo distante do essencial. Talvez descubra que procurou fora de você, longe por demais o que estava dentro de você. Talvez, no máximo, ao seu lado. Amar é o jeito mais bem feito de rezar. Impossível a quem não ama rezar. Impossível igualmente a quem reza não amar. Amar e rezar são formas exclusivas de quem tem fé.
Parabéns! Você fez trinta anos amando e sendo amada (o) e sabendo disto. Amar é sempre um ato de loucura, mas de que vale e para que serve uma lucidez sem amor? Aos trinta anos amando e sendo amada (o) a gente descobre que o amor é uma loucura improvável. Assim, como aquele Jovem amante e ousado, de braços abertos à vida, olha de cima do Corcovado, como o Poeta que, com seu verso metálico, acanhado, olha quem passa no calçadão, tenha Fe na vida. Como o Poeta e com ele ouçamos as cantigas do mar olhemos cada pegada na areia e digamos mineiramente ao vasto mundo, eu caminho por teus caminhos, eu subo e dou voltas em tuas pedras. Eu sei o que e a quem amo nessa vida. E, com o Poeta da floresta, no balanço das águas da vida, dizemos, o que busco, aos trinta anos, é um novo jeito de caminhar. Disto eu não abro Mão.
Aos trinta anos a gente sabe olhar para o Rio e Ver o Mar. Olhar para o céu e ver o sol e não apenas sombras que a sua luz projeta. A gente aprende a olhar para céu e ver a Lua, as Estrelas, as Nuvens e não o vazio, a escuridão. A gente aprende a ver o infinito e a imensidão com a naturalidade de uma criança que faz da palma de sua Mão o seu universo. E a gente novas posições e novos movimentos na vida. A gente aprende a sentir o vento, como uma brisa mansa, como se fosse a respiração da pessoa amada na nuca de nossa alma. Aos trinta anos a gente descobre, mesmo que por meios pouco compreensíveis, que o único pecado é não amar. Que o único sofrimento insuportável é não ser amada (o) e que loucura não é o contrário de sanidade, mas de comodismo. Que amar não é apenas o oposto de não amar, mas de indiferença. Aos trinta anos, por fim, a gente aprende que não existe o fim, no máximo, existe o fim de um começo. É aí que a gente, finalmente, de cabeça erguida, descobre e mais que isto, diz, tinha que ser assim.
Curitiba, 28 de Junho de 2012.
João Santiago.
Teólogo, Poeta e Militante.
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