Golpistas, juízes parciais, massacres e uma esperança para o Brasil

Uma Cunha sem travas em Curitiba e Uma Cruz sem pregos, solta por aí, o Golpe à Democracia e Dez Covas em Pau D’árco, no Pará, Mostram Que a Carne Não é Tão Fraca Assim, e os Poderes é Que São Podres

O duro e covarde golpe dado contra a democracia e contra o nosso país por suas elites não para de fazê-los sangrar, encaminhando os feridos para uma falência múltipla de órgãos. Ele, o pais, caminhava de cabeça erguida, rumo à maioridade democrática. Ostentava com certo orgulho adolescente, a identidade de um país inclusivo, que erradicava a miséria e combatia as espinhas da corrupção dos dois lados da face. E justamente graças a ela, à democracia, que recebia os primeiros sinais da fertilidade feminina, despertando as atenções e inspirando poesias. Como uma destas balas perdidas, mas com destino certo, mais uma vez atingiu o coração da juventude pobre e negra nas periferias sociais, intelectuais e políticas. A Casa Grande não pode permitir que o povo descubra que as nuvens não são de algodão. Quando isso acontecer, não será com sua permissão. O judiciário está nivelado por baixo. Impossível encontrar qualquer lógica em seus critérios de absolvição ou de condenação. A não ser estes: é amigo, não é amigo. Os ricos continuam com direito garantido de matar os pobres e serem condecorados pelo Estado. Pau D’árco no Estado do Pará, nos mostra isso com mais uma chacina. Execução feita e dirigida pelo Estado, que ainda entregou os corpos para as famílias amontoados na carroceria de um caminhão. Não é a carne que é fraca, é o caráter de alguns gestores públicos, neste caso.

A preconceituosa classe dominante brasileira, por fim, mostrou de que é capaz. Representada pela grande mídia, que agora também assumiu a filiação partidária como Partido da Imprensa Golpista – PIG – naturalizou a corrupção. Coordena a base aliada do governo, define as manchetes e os cardápios dos três poderes. Agora, não é mais apenas permitido que corruptos com denúncias e provas sejam ministros de Estado, mas tornou-se exigência. Já não se escolhem os ministros por sua capacidade técnica, tampouco por ter uma vida limpa e por seu bom caráter, mas por seu envolvimento com o crime e por sua capacidade de articular outros criminosos em torno do governo. Que seja capaz de administrar não só a jogatina, mas o cassino, o prostíbulo no qual se tonou o governo deste país. Com todo respeito devido aos prostíbulos, porque jamais se ouviu falar de tantas sacanagens em nenhum deles. Entre a mansidão de um gato angorá e o estresse de um mineirinho pidão, vale tudo nesse jogo de bicho grande.  

O autoritarismo, as violências, divulgadas pelos meios de comunicação e praticadas pelos governos das capitais, substituem as promessas feitas nas campanhas. Violência agora é política pública na república do golpe. Alguns políticos derrotados nas urnas e que perderam a sua validade, se é que algum dia a tiveram, como é o caso do prefeito eleito de Curitiba, foram tirados do sarcófago. E foram eleitos para fazer exatamente aquilo estão fazendo. Como apoiadores do golpe e beneficiados por ele, seguem destruindo direitos de servidores, reprimindo os mais pobres, praticando a torpe política higienista. E, principalmente, cortando verbas dos programas sociais. E o pior é que tem gente que ainda se surpreende. Enquanto o povo de Curitiba, capital do Paraná, não tem mais os remédios básicos para crianças, hipertensos, diabéticos e idosos, os juízes e grande parte do judiciário recebe auxílio moradia. Esta última é uma anomalia, um tipo de demência ética, moral e humana, porém consciente, criada pelo PSDB. Eu sei, isso nasceu com o governador que não tem credibilidade nem para caminhar nas ruas. Não tem credibilidade política para governar decentemente e precisa comprar o tapa-olho e tapa-ouvidos para seus sustentadores. Além de gastar quinze salários mínimos por dia, durante os próximos doze meses, em propaganda na zona midiática do Estado, para que alguém fale bem dele.  

A cracolândia pode ser invadida pela corruptolândia, com o apoio do braço armado do Estado, que agora, no pós-golpe, tem uma e única função. Reprimir. Para o azar dos sacoleiros, desempregados e da população em situação de rua, afrodescendentes e manifestantes, vítimas da insensatez do próprio Estado neoliberal, isso ele sabe fazer bem. A mídia, e de forma especial os programas policiais, muito bem pagos, se encarregam de fazer a campanha de apologia à violência do Estado, disseminando o medo, jogando pobre contra pobre. (...) porque a ação da polícia no domingo, indiretamente, autorizou a população em geral a agredir as pessoas que forem vistas usando crack” (Padre Júlio Lancellotti). As últimas eleições municipais criaram alguns cenários novos que têm dado alguns exemplos do que nos espera. Em São Paulo (Prefeitura e governo do Estado), tal e qual Curitiba e o governo do Estado do Paraná, estão juntos, mas não é para enfrentar e superar os problemas sociais e políticos em prol da população. Mas para juntos aumentarem a capacidade de reprimir miseráveis e contrários às suas verdades absolutizadas. São cruéis com os pequenos e subservientes com os grandes. Além de, claro, tirar seus gestores e parlamentares das bases de apoio, dos noticiários policiais. E, assim, abafar as denúncias de corrupção que os envolve, recheadas de provas mais fortes do que as convicções de seus julgadores. Ainda, alegando falta de recursos e utilizando a crise como fuga, tirar direitos trabalhistas conquistados há meio século por servidores. Abrindo, assim, espaços para as terceirizações, sua religião e seu deus ao mesmo tempo. Tudo isso seguindo a receita que vêm de fora e implementada por um governo ilegítimo por natureza, corrupto por convicção e que compromete o presente do país, negando-lhe o direito a um futuro.

A legião de malfeitores que não tem o menor compromisso com a democracia, com o país nem com a vida desse povo, talvez prevendo que algo não desce tão certo assim, testou mais um engodo. Candidatos que não são políticos, dizem ser a solução. Aí vão buscar arrumadinhos de sua confiança e cumplicidade, que fazem a velha e miserável política há séculos, e os elege com a alcunha de novo. E assim, continuam mandando no país, sendo mandados por seus financiadores internacionais e escondendo seus mal feitos.  Aproveitam-se covardemente de uma população alienada politicamente e que, por isso, é facilmente manipulada pelas propagandas.

Já que um povo não se liberta sem líderes competentes, honrados e confiáveis que lhes guie, é hora de se mostrar a cara e se dizer o que não pode ficar calado. Ao contrário do que tentam dizer os “comissionados” (coxinhas?), que foram às ruas contra a corrupção, a maioria dos líderes bem paga pelos corruptos que deram o golpe e hoje desgraçam este país, é preciso mostrar que não são todos iguais. Fernando Henrique, que também tinha caído no esquecimento da história, aproveitou o golpe para submergir do submundo das maquinações políticas. Conhecido como o financiador, um tipo de padrinho do golpe, neste momento é a única boia que mantém o Temer respirando no lamaçal de dejetos que é a quase totalidade de seu partido e todo o seu governo. Mas parece que isso dá ao príncipe da sociologia da miséria um prazer especial. O partido dele o PSDB, deve dá muita alegria ao PMDB de Temer e que o pariu. Aprendeu e aplica direitinho a receita de dá golpes, quebrar governos e aumentar a miséria concentrando as riquezas num pequeno grupo de amigos. O projeto de maldades tucano naufragou, porque o Aécio tem a mesma competência de seus “mestres” para praticar corrupção, mas não tem a mesma inteligência para se esconder.

Não é possível, neste momento, apenas taparmos o nariz e seguirmos andando na fedentina tucano-temista, como se fosse normal presidente da república, ministros de Estado, senadores e deputados, prefeitos e governadores roubarem e se auto protegerem nas abas do chapéu do judiciário partidário. É a hora de abrirmos os olhos e dizermos, basta! Este país e este povo não merecem voltar para a miséria em que se via há vinte anos! Este país e este povo não merecem voltar para a década de 90 do século passado, quando ou se engavetava os processos ou se jogava a sujeira para debaixo do tapete. A única verdade que sobrou de tudo isso, foi a própria verdade. Lula é um homem de mãos e de coração limpos. E de uma paciência histórica e de uma sabedoria indescritíveis. Nada irrita mais os seus perseguidores do que isto. Assim como Dilma é uma mulher honesta, íntegra, não cometeu crime no governo do país. Foi cassada porque descobriu o esquema e tentou fechar a torneira que corria o mel das ratazanas. Por mais que tenham desrespeitado seus direitos humanos e políticos, torturados seus familiares, nada, absolutamente nada de antiético foi encontrado. Mesmo se usando métodos medievais de perseguição e tentativas de desmoralização pública, via a TV oficial do golpe.

Lula, companheiro, você é realmente o cara! Prepare a proposta para a segunda fase da democratização do Brasil. Você só conseguiu governar este país por oito anos e eleger a sua sucessora, erradicando a miséria e levantando a auto estima de seu povo, porque, antes de você, o galã da globo deu no que deu. Fracassou, não decorou o texto e foi comido vivo pela própria emissora que o projetou, com medo de ver Leonel Brizola no poder. Depois, as mesmas organizações criminosas lançaram o príncipe da sociologia da miséria. Conseguiram muito do que queriam: multiplicaram o seu patrimônio; privatizaram o país, através da maldita privataria tucana; entregaram grande parte de suas riquezas e de sua dignidade; institucionalizaram a corrupção como método de governar e criaram sessenta milhões de miseráveis no país; fizeram dos juros e da desfaçatez, armas de extermínio em massa. Agora, Lula, você vai contar com o fracasso dos mesmos assassinos. Eles fracassaram, nós não. Eles mataram, nós não. É hora de juntar os poucos cacos que sobraram. E isso você sabe fazer bem. A sabedoria de Dona Lindu e de muitas matriarcas Nordestinas, que sabem fazer limonada até sem limão para salvar a vida dos filhos. Imagino Lula, Dilma, Ciro Gomes, Roberto Requião, pisando sobre os escombros de um país destruído pela insana fúria da corrupção neoliberal e sonhando juntos com um novo amanhecer, para trazer um pouquinho de Celso Furtado. A desilusão do povo e do país hoje é avassaladora, mas nós vamos vencer. Recomeçar é a missão dos sábios. PT, o Brasil precisa de você. Conte comigo!

Curitiba, 28 de Maio de 2017 – Segunda Feira.

João Santiago.
Teólogo, Poeta e Militante.

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