As Mulheres do Brasil: hoje nós vamos fazer algo diferente!

As Mulheres do Brasil: Gleisi Hoffmann (PT-PR); Fátima Bezerra (PT-RN); Vanessa Grazziotin (PCdo B-AM); Lídice da Mata (PSB-BA). Quatro Mulheres especiais de três partidos e três regiões diferentes. Em comum: são mulheres, lideranças femininas e senadoras dessa República em que os homens que a governam, legislam e julgam, perderam a vergonha. O lugar que elas escolheram: o plenário do senado federal. Lá, vidas já nada significam! Para seus chefes corruptos, covardes e absolutamente desprovidos de escrúpulos, pessoas não contam, direitos somente os deles. Que eles mesmos decidem quantos e quais são. O cenário que deveria ser um lugar de diálogo, de democracia e garantia de cidadania e dignidade, tornou-se um cassino, onde joga-se nas roletas invisíveis do propinoduto, não fichas, mas o destino de uma multidão de indigentes que começara a sentir o cheiro de nação, o gosto de ser povo. A conhecer a sua gentidade. Seus donos de fato o tratam como se fosse o seu bordel. Apagam suas luzes e desligam seu som quando querem.

E o momento, qual é? Qual é o contexto imediato anterior? Estamos diante de uma jovem democracia em estado de demolição. A obra já estava bem avançada e já se reconhecia a sua arquitetura apenas ao olhá-la. Erradicava-se a miséria absoluta para 50 milhões de pessoas; incluíam-se outros milhões de jovens pobres nas universidades; vivia-se a situação de pleno emprego; praticamente reconheciam-se para a população humana os direitos animais que para Josué de Castro são casa e comida. Depois de um golpe sórdido e covarde, em que se cassou o mandato legitimo, de uma Mulher, Presidenta íntegra, honesta, democrática e legitimamente reeleita pela maioria do povo de seu país, uma quadrilha altamente organizada agiu em legítima defesa. E qual é a situação? O que estava em jogo? Mudar o país. Dá um basta à corrupção, instalada, espalhada, disseminada no intestino das instituições. Os três podres poderes estão aparelhados pelos vendilhões da esperança a serviço do capitalismo e do imperialismo internacionais. Estão infestados pela corrupção que se tornou uma metástase óssea corroendo a estrutura política, ética, administrativa e sobretudo, econômica da República. As células cancerosas são os deputados, os senadores, os ministros de Estado, os juízes imparciais, alguns artistas e jornalistas, e o próprio presidente golpista que viajam em jatinhos da FAB por todo o país. Têm toda uma rede midiática à disposição para falsificar boletins médicos diários e uma emissora oficial que adultera tudo.   

E qual é a obra das quatro Senadoras? Como nos pergunta Mário Sérgio Cortella, qual é a tua obra? Pois bem, a exemplo de uma revolucionária das novelas bíblicas do segundo século antes de Cristo, elas disseram: “Realizarei uma obra que será comentada de geração em geração pelos filhos de nossa gente” (Judite, 8,32). Nossas quatro Senadoras cortaram a cabeça de uma república machista e governada por anciões imbecis. Com a espada da ousadia, deceparam a desfaçatez de uma casa de velhos. Velhos, não apenas pelas cabeças brancas, pelas rugas no rosto ou pelos abdomes desproporcionais a sua ética na política, a sua dignidade humana e ao bom senso. Isso poderia lhes ser talvez a única virtude. Velhos porque, como diz Paulo freire, “ perderam a validade”. Muitos jamais a tiveram! Um deles, identificado nas listas de propina como “Índio” - que injustiça para com os nossos índios -, disse: “Isso nunca se viu!”. De fato, senador, corrupto, nessa casa, hoje comandada por uma quadrilha de ladrões e corruptos, não. Isso nunca se viu. Mas para essas Mulheres, Senadoras de verdade, isso faz parte de suas vidas, de suas práxis. Elas não se vendem! Elas não se corrompem e não traem seus eleitores e suas eleitoras. Isso, senador covarde, chefe de outros covardes, é uma velha-nova forma de resistência. Ocupar! Não deixar os golpistas coordenados por você, fazerem parecer que mentir é virtude. Que roubar é normal. Você, senador, imbecil, entrará para a lixeira da história, com seu bando de picaretas. Elas, ah, senador, você não sabe o que significa isso! Nunca entenderá. Falta-lhe humanidade para isso. Elas entraram para a história! Quem é que se lembra dos nomes dos assassinos de Che Guevara, de Dom Oscar Homero, de Chico Mendes, de Margarida Maria Alves, de John Lennon, do Mahatma Gandhi?  É para o meio destes assassinos que você vai com seu bando. Serão sempre traidores, covardes e corruptos. Nossas Judites dizem: “Esmaga a arrogância deles pela mão de uma mulher” (Judite 9, 10). Neste caso, de quatro mulheres guerreiras, cientes de terem agido em nome de outras milhões de mulheres deste país.

São os covardes filiados aos partidos dessa república deflorada às escuras e as claras, somados aos outros covardes que não têm sequer a coragem de entrarem em um partido político, e fazem de um canal de televisão, de suas revistas e jornais e das Côrtes e de algumas religiões seus partidos políticos. Não poderiam mesmo permitir que este país fosse passado à limpo, porque seriam todos eles denunciados, processados, julgados, condenados e presos. As provas abundam, tanto quanto os recursos públicos desviados para suas contas. São tantos os áudios, os vídeos, os bilhetes e as fotos que chega a causar horror! Somam-se aos covardes de estupram mulheres nas esquinas, nas igrejas, nos escritórios, nos gabinetes e nos departamentos. Se estupram mulheres o que lhes custa estuprarem uma constituição? São os mesmos homófobos, pedófilos e traficantes que usam o poder e as influências que ele traz, para continuarem matando e permanecerem impunes. E dizem que não fazem nada de errado. Nossas Senadoras de verdade, de mãos e fichas limpas, ensinam ao nosso povo, com quem aprenderam a resistir à infâmia da subordinação, da segregação, da negação do outro e da outra. São as heroínas do Brasil e contrastam com os vilões que desmoralizam as instituições e a vida de um povo. Hoje, no senado, na câmara, assim como no executivo, a partir dos critérios de escolha de seus ministros; da composição da suprema Côrte, parece que a condição é ser corrupto. Se não for do meio, se não fizer parte do esquema, o que significa ter cometido crimes semelhantes, e assim também ter o que esconder, não pode.

É este estado de coisas que não justifica, mas explica o fato de eles não aceitarem que o Presidente Lula não seja ladrão como eles. Eles não admitem que alguém possa ser presidente de um país como nosso, por oito anos, e não ter roubado. Foi assim com Jango, com Juscelino também. Esse foi o “crime” da Presidenta Dilma, para eles, não ter roubado. Eles também não podem conceber que o Partido dos Trabalhadores, mesmo que não seja puro – essa nunca foi a nossa pretensão – somos gente e gostamos de ser gente, se tornasse o partido mais respeitado e mais confiável do Brasil. Sobretudo, fosse reconhecido por mais de trinta por cento da sociedade como um partido eticamente confiável. A elite brasileira, sempre fazendo suas necessidades fisiológicas em cima das imensidões pobres e usando a classe média como elemento excretor, não sabe o que é limite. É capaz de qualquer coisa para ter tudo. Não lhe basta ter muito. Ou tudo ou nada. Pouca gente se deu conta de que o crime organizado nos quatro poderes de nosso país – o quarto representado pela rede golpista oficial de televisão -, em nome de Deus, da Bíblia, da Família, e do torturador, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, deu um golpe na nossa democracia, na nossa constituição e na nação inteira. Pouca gente se deu conta também de que, sobre a Presidenta honesta, íntegra eticamente, legitimamente eleita, perseguida e covardemente cassada, em grande parte por ser Mulher, não pesa nenhum processo. Não consta sequer, acusações de quaisquer desvios. Enquanto isso, oito em cada dez de seus torturadores se afogam em dejetos na fedentina da corrupção que os fazem cúmplices.

Todos os covardes quando veem seus malfeitos serem expostos, correm para buscar cobertura, se escondem, fogem, vão fazer conchavos para entrar no barco de proteção dos corruptos. Calam as bocas sujas, em outras ocasiões tão cheias de palavras e de discursos. Nossas Senadoras, a exemplo de nosso Presidente Lula, quando são acusadas, vão para as ruas, para as praças públicas e denunciam! Mulheres, vocês me representam! Assim como representam os sonhos e os desejos de ser deste povo tão enganado, tão explorado, tão humilhado e tão traído por seus representantes. Foi hilário, para parecer delicado, ver à noite, a rede de televisão oficial do golpe com seus abutres, desinformando o povo e condenando as Senadoras. Mas não há nada mais esculhambado do que ver aqueles velhos corruptos, ladrões e covardes, invocando a democracia, o respeito, a vergonha, imaginem! Era possível ouvir alguns agirem como devem fazer com seus empregados em suas fazendas, e mais ainda com as filhas de seus empregados. Talvez com suas mulheres. “Sai daí!”, disse um; outro dizia, “Cala a boca!”; e por aí vai. E nossas Senadoras almoçando com suas “Quentinhas”, impávidas. Isso também os covardes não suportam. Não serem obedecidos. Principalmente por uma mulher. Ao desligar o som e apagar as luzes do senado só faltou o capaz do propinoduto dizer: gente honesta aqui, não!

Encerro este texto com o que escrevi na minha agenda enquanto assistia ao noticiário e vivi a emoção e perceber que ainda temos uma fagulha de indignação que gera e alimenta a vida. Uma fagulha mulher! Hoje, as mulheres deixaram este país com um pouco mais de esperança de dignidade para seu povo. As senadoras de esquerda ocuparam a mesa da presidência do senado durante mais de seis horas. Aquela casa há muito se tornou um campo de concentração nazista, uma sala de torturas de pobres e um lugar de destruir direitos. Salve o dia 11 de Julho de 2017. Nossas quatro Senadoras, por fim, fizeram memória também a Maria da Penha Maia Fernandes, a farmacêutica nascida em Fortaleza, vítima de violência doméstica de seu ex-marido. Um covarde como estes que governam este país hoje. De sua luta nasceu a lei nº 11.340/2006 e que ficou conhecida como Lei Maria da Penha. Esses canalhas, golpistas, covardes e traidores, vão ter que entender que mulher não é objeto, que gente não é coisa.

Curitiba, 07 de Agosto de 2017 – Segunda Feira.

João Ferreira Santiago
É Teólogo, Poeta e Militante.
É Mestre em Teologia e Especialista em Assessoria Bíblica.
É autor do livro “Gamela de Pedra”, entre outros.
[email protected]

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