Os jovens, a profecia e a espiritualidade

Os jovens passam por várias mudanças no decorrer de sua história, seja ela humana, social e espiritual. É como encontrar grupos de jovens em debatendo seus sonhos e seus projetos, bem como abordam também a dor, o fracasso e o desânimo em vista daquilo que está acontecendo na sociedade e dentro de alguns setores da Igreja. Ser jovem dentro desse contexto, requer ser profeta e ter uma boa espiritualidade para atuarem junto do povo de Deus, se doando e fazendo de suas vidas um verdadeiro ato de felicidade.

Esta reflexão surge para tentar responder alguns questionamentos acerca da profecia e da espiritualidade juvenil, tentando verificar a causa do extermínio de jovens dentro de uma sociedade globalizada, individualista, fundamentalista e consumista. Quais caminhos devem ser percorridos? Se há realmente jovens profetas, onde eles estão?

            Dizia o poeta[1]:

A VIDA SE TECE DE SONHOS

A vida se tece de sonhos!
Sonhar é a melhor parte do viver!
Somos jovens do campo e da cidade,
na luta por justiça e solidariedade.
Só ama quem sonha!
Só sonha quem fala:
“por uma terra sem males e demarcada!”
“olha como o vento desfralda a wiphala!”
E não haverá miséria nem fome.
Será diferente o futuro de ricos e pobres
e não haverá miséria nem fome.
Cada um será chamado pelo próprio nome.
São os sonhos da resistência.
É a realidade que surge nova.
Somos jovens em busca da paz.
É paz consciente que da terra brota!
A vida se tece de sonhos!
E sonhar não custa nada.
Somos profetisas e profetas!
E estamos aí pelas ruas e praças,
com sonhos, alegrias e virtude,
no continente da esperança,
somos uma pastoral da juventude.

Vale a pena lembrar aqui uma passagem que Dom Hélder Câmara disse para o Monge Marcelo Barros: “Não deixe cair a profecia!”[2]  Essa expressão deve impulsionar a juventude a lutar pela profecia e pela espiritualidade, e não deixa-las morrer. A Igreja precisa desse impulso para sobreviver às mazelas do inimigo. O próprio Deus desenvolveu seu projeto salvador dentro da história humana, chamando pessoas e povos. E Ele continua a chamar profetas e profetisas, que estejam dispostos a ir em lugares diferentes e muitas vezes ameaçados.

O que aconteceu com os profetas e as profetisas, onde estão aqueles que anunciam denunciam e ameaçam? Será que a profecia morreu?

Não! O que aconteceu é que ela está um pouco distante. A dificuldade do passado e do presente se encontra na pobreza institucionalizada, tanto na parte econômica, quanto na parte da política. Muitas famílias os jovens de hoje vivem em situação completamente desafiadora, o que seria uma afronta ao Deus de Jesus de Nazaré. Faz-se necessário buscar as fontes da nossa profecia e espiritualidade.

Os jovens brasileiros têm consciência de que a profecia é uma ação pública de grande visibilidade necessária? Eles sabem sobre a importância da espiritualidade na vida do povo de Deus? Onde estão os jovens, uma vez que muitas vezes não estão nas comunidades eclesiais de base, tampouco na Igreja?

Os jovens estão no mundo. Há no Brasil uma grande perspectiva cristã católica de pessoas que trabalham com os jovens. O que precisa fazer nesse caso é ir em busca deles, trazendo-os de volta à realidade e fazendo-os verdadeiros profetas. Quando falamos em juventude, logo vem à memória uma fase da vida, porém não é só isso, mas uma construção histórica. Os jovens e as jovens na sociedade atual não só se preparam para o futuro, mas se insere na vida adulta.

Pode-se dizer que há um duplo olhar: o da sociedade para os jovens e dos jovens para si mesmo. A sociedade observa os jovens se tornando mais desenvolvidos. Por outro os observa como seres subordinados, e ainda submetidos a um trabalho de marginalização, principalmente quando se trata de funções públicas. Quando se fala que os jovens olham a si mesmo, logo pode-se dizer que entra em jogo as diferenças que afetam principalmente o campo sociopsicológico.

Quando se fala de profecia, há uma palavra muito importante para compreendê-la: resistência. Segundo a etimologia da palavra, vale ressaltar o prefixo re, que remete a uma duplicação, uma insistência, um desdobramento, uma outra vez; um substantivo derivado do verbo sistere: parar, permanecer, ficar de pé, estar presente. Nesse sentido, resistência é permanecer firmes. O profeta fica de pé e anda, fala, grita, ameaça, mas nunca fica calado em meio às injustiças sociais.

Sobre a espiritualidade há vários conceitos que pode ajudar a entender um pouco do seu significado. Aqui o foco é a espiritualidade cristã católica. A palavra espiritualidade tem sua raiz na palavra espírito (ruah- em hebraico- cf. Gn 2,7; Jo 20, 22).

Casaldáliga e Vigil dizem assim[3]:

A espiritualidade não se opõe à matéria nem ao corpo nem à história. A espiritualidade de que a gente fala não acontece fora do mundo; vive-se aqui, “pé-no-chão”, no dia-a-dia da vida humana, trabalhadora, militante, de luta e festa, de vida e morte e de Vida! A espiritualidade de uma pessoa é o mais profundo de seu próprio ser: suas motivações maiores, seu ideal, sua música de vida, a utopia que a dinamiza e empolga. Ter “espírito” e ter “espiritualidade” equivalem praticamente. “Espírito é substantivo concreto”. “Espiritualidade é o substantivo abstrato”.

Muitas pessoas não entendem que a espiritualidade é a capacidade que todo ser humano tem de entrar em profundo tem de entrar em profundo diálogo consigo mesmo e posteriormente com o Outro que lhe fala ao coração. Através dela os valores são sustentados, tais como: solidariedade, compaixão, cuidado e amor. Isso faz a sociedade mais humana e fraterna.

A mística na vida da juventude é de fundamental importância, e nos mantém vivos, renovando sempre a esperança de ver um mundo melhor. Quando não se sabe usar a mística e a espiritualidade, torna-se fuga. Os jovens devem sempre ter em mente que é no silêncio que Deus se deixa encontrar, e nesse encontro acontece uma revelação de nós para com Ele.

A juventude é um tempo propício para se auto educar e se deixar educar por outras pessoas. É também um tempo de encontro pessoal e comunitários e diálogo. É um tempo de amar a si mesmo para depois amar os demais. A partir dessas descobertas, os jovens podem fazer a experiência de Deus, descobrindo a sua vocação e o seu lugar dentro da sociedade e da classe na qual eles estão inseridos.

Na sociedade atual, abordar profecia e espiritualidade significa encontrar em nós e na comunidade um ponto de apoio fundamental. Que nossa juventude do meio popular nunca perca o ponto de partida e tenham sempre o amor de Deus em suas vidas. Ainda existem muitas coisas a serem feitas. Falta um pouco para chegar o Reino, mas deve-se continuar na luta.

Que a paz habite em cada coração!

Erivelton dos Santos Pereira
Santa Cruz do Arari - Pará
eriveltonpereira@aol.com

 


[1] TAVARES, Emerson Sbardelotti. Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007, p. 17.

[2] COMBLIN, José. A Profecia na Igreja. São Paulo: Paulus, 2008.

[3] CASALDÁLIGA, Pedro: VIGIL, José Maria. Espiritualidade da Libertação. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 35.

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