Em 04/08/2016 por Josenilson Doddy*
Qual a utilidade da pobreza, senão para servir como meio de sustentação desse sistema insuportável?
Ora, é preciso que se tenha pobres para que a classe burguesa siga dominante. O exército industrial de reserva é um exemplo. A fabricação da pobreza marginal aos meios de produção determina o impiedoso grau de exploração da pobreza incluída no trabalho assalariado.
Mas o capitalismo, incompatível com a realização da justiça e da igualdade sociais, depara-se, mortalmente, com a classe trabalhadora (pobres), a única força propulsora capaz de superá-lo.
O antagonismo das classes torna ficção qualquer tentativa que tenha no diálogo entre exploradores e explorados o melhor jeito de resolver os conflitos.
As Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, a parte da Igreja cujo carisma passa pela opção preferencial pelos pobres, têm a grande missão de fazer trabalhadores e trabalhadoras perceberem sua força transformadora em meio a tantos sofrimentos.
As CEBs não podem lidar com o sofrimento dos pobres seguindo a cartilha da dominação. O sentimento de pena conduz a gestos de caridade, gestos de esmola, esmola de pão, esmola de dedicação. Por isso desvia os rumos do projeto de justiça e vida plena.
Numa sociedade de tanta fartura, a pobreza só pode ser um fenômeno artificial. O pobre é, na verdade, empobrecido.
O assistencialismo é a política de dominação que bloqueia o acesso dos/as empobrecidos/as às origens do empobrecimento. Por essa razão, a práxis da militância das causas populares não pode se furtar em questionar a pobreza: De onde vem?
A compaixão faz sentir nas entranhas a dor "alheia". A indignação sacode corpo e alma para uma atitude. O olhar alimenta esperanças rebeldes, contribuindo para que trabalhadores e trabalhadoras percebam o quão necessário é se organizar e lutar. Os conflitos entre as classes não se iniciarão aí, apenas se tornarão perceptíveis, compreensíveis. Os/As empobrecidos/as, despidos/as de ilusões, estarão preparados/as para os embates necessários.
Para a construção de uma nova sociedade, a preferência pelos/as pobres é um primeiro passo, mas, para que de fato a derrubada do sistema capitalista aconteça, é preciso ir além, é preciso atuar para que os/as próprios/as pobres se unam e façam acontecer.
*Josenilson Doddy ([email protected]) é militante da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) de Aracati e da Organização Popular (OPA).
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Comentários
Enviado por Edvaldo Jericó (não verificado) em ter, 09/08/2016 - 18:19 Link permanente
O texto traz importante
O texto traz importante reflexão sobre a utilidade dos pobres como objeto de manutenção do capitalismo.
Lembra também que a solidariedade do assistencialismo, muitas vezes fruto do sentimento de pena do pobre, acaba sendo útil ao próprio sistema que gera a pobreza.
Bacana.
Mas...
A opção preferencial pelos pobres é muito mais do que pena dos pobres. Não é escolha de assistencialismo à pobreza.
A opção preferencial da conta de uma escolha social, eclesial e escatológica. Não é pietismo de solidariedade meramente assistencialista. É seguimento autêntico de Jesus, que com pobres formou um movimento e, com eles, percorreu um caminho de liberdade. Caminho de liberdade que começou em Cesareia e terminou em Jerusalém. Do "Feliz os pobres", ao abraço radical da cruz e à ressurreição.
Não diminuamos nunca essa grandiosidade que é a opção preferencial pelos pobres. Ao contrário, a façamos efetivamente!